Estudo suplementar ao ELSA-Brasil mostrará como as desigualdades no transporte e na infraestrutura urbana podem afetar a alimentação e aumentar o risco de doenças crônicas.
Um novo estudo suplementar ao ELSA-Brasil investigará como a mobilidade urbana e a presença de áreas verdes afetam a alimentação, a saúde e a qualidade de vida da população, além de discutir de que forma as desigualdades socioeconômicas e raciais influenciam o acesso a infraestruturas urbanas, intensificando iniquidades em saúde.
Intitulado “Efeito da mobilidade urbana e das áreas verdes na sustentabilidade da dieta e nos desfechos de saúde: o papel interseccional das desigualdades sociais”, o estudo acompanhará pouco mais de 10 mil participantes do ELSA-Brasil em seis estados (Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio Grande do Sul).
A iniciativa busca responder questões como: passar horas em deslocamento nas cidades afeta o que as pessoas comem? Por que um bairro tem sombra, áreas verdes e acesso a alimentos frescos e outros não? Quem vive nesses bairros e como se deslocam pela cidade?
A pesquisa parte da premissa de que o tempo gasto no transporte, a disponibilidade de praças e parques e o acesso a alimentos frescos não são distribuídos de forma igualitária nas cidades. “Saúde não começa no hospital, mas no direito à cidade, transporte digno, áreas verdes e acesso a comida saudável”, afirma a coordenadora do CI-BA e professora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA), Sheila Alvim.
Populações negras, especialmente mulheres, e famílias de baixa renda que vivem nas periferias costumam enfrentar deslocamentos longos, espaços públicos escassos, inseguros e alimentação baseada em produtos “ultraprocessados”, mais baratos e fáceis de encontrar. “Se identificarmos que bairros com menos áreas verdes concentram mais casos de obesidade, por exemplo, será possível cobrar investimentos nessas regiões”, destaca Sheila Alvim.
Com o objetivo de medir esses fatores, serão utilizadas imagens de satélite para mapear áreas verdes e entrevistas sobre hábitos alimentares e condições de vida, já disponíveis no ELSA-Brasil. Além disso, os participantes do estudo serão convidados a usar aplicativos e dispositivos que registram trajetos e atividade física. A análise também considerará a sustentabilidade ambiental das dietas.
Os resultados poderão orientar políticas públicas voltadas para transporte público rápido e seguro, incentivo a feiras livres e hortas comunitárias, além da criação e preservação de áreas verdes, especialmente em regiões historicamente negligenciadas.

